Rachadura provocada por explosão de mineradora em quilombo em Paracatu, foto de arquivo de 2011 — Foto: Incra/Divulgação (Foto: )
Com mais de 2.800 pessoas, Paracatu é
a cidade do Triângulo, Alto Paranaíba e Noroeste com a maior
população quilombola e a 10ª em todo o estado, de acordo com o Censo
2022.
O número representa 3% da
população da cidade. Porém, a história dos quilombos em Paracatu é antiga,
já que há registros de quilombolas na região há 350 anos. Atualmente,
cinco comunidades são reconhecidas pela Fundação Cultural Palmares.
Mesmo com a primeira
comunicação à coroa sobre a região onde atualmente é Paracatu ter sido feita em
1744, a presença dos quilombolas na cidade é mais antiga, antes da chegada dos
bandeirantes.
Quilombos
em Paracatu
Ao todo, são 13 quilombos na
cidade, porém, os cinco quilombos reconhecidos oficialmente pela Fundação
Cultural Palmares são:
Machadinho;
São
Domingos;
Pontal;
Cercado;
Família
dos Amaros.
A mestra em Educação e
pedagoga, Lara Luisa, é quilombola e a bisavó fez parte do Quilombo dos
Palmares, um dos símbolos da resistência negra. Já o avô fez parte do
Quilombo do Américo, considerado um dos maiores do pais, que era situado na
região do Triângulo e Alto Paranaíba.
Além de fazer parte da
comunidade, ela é vice-presidente da Federação das Comunidades Quilombolas de
Minas Gerais e pesquisa sobre o tema. Lara explica sobre esse outro lado da
história da cidade. “O início de Paracatu é datado da chegada dos
bandeirantes, mas os quilombolas indígenas já estavam lá”.
“Os
quilombos se estabelecem em Paracatu fugindo de Diamantina, de Ouro Preto.
‘Quilombo’ é um quartel de defesa. Eles se estabeleceram ali fugindo da
escravidão”, disse.
Nessa origem da cidade, uma
das principais atividades econômicas era a exploração do ouro existente na
área, que era feita pelos próprios quilombolas.
Racismo
Institucional
Mesmo com uma história
antiga, o reconhecimento dos quilombolas é recente e, constitucionalmente, tem
menos de 50 anos. Foi a partir da Constituição Federal 1988 que as
comunidades remanescentes de quilombos tiveram direito à terra por elas
ocupadas.
Esse reconhecimento tardio
impactou na falta de vários direitos. De acordo com Lara, o principal problema
é justamente o racismo estrutural.
“O
[racismo] mais forte é na identidade. Não trabalham a origem quilombola da
população. As escolas não trabalham essas questões, os estudantes quilombolas
não se veem no currículo escolar”, detalhou.
Outro ponto é o racismo
religioso, segundo a pesquisadora. Mesmo a cidade tendo muitos terreiros de
umbanda e candomblé.
Reconhecimento
Os dados sobre os quilombos
no Brasil são inéditos, já que é a primeira vez que o Censo incluiu em seus
questionários perguntas para identificar pessoas que se autodenominam
quilombolas.
Na atual legislatura,
Paracatu conta com cinco vereadores quilombolas;
O maior bairro da cidade, o
Paracatuzinho, também é um bairro quilombola;
Ainda assim, as
comunidades enfrentam uma série de dificuldades.
No caso da comunidade de
Cercado, o problema é relacionado à água. No caso de Machadinho, os problemas
são relacionados à uma mineradora e o uso das terras deles.
“Outros problemas são na
educação e a saúde. A maioria dos quilombos não tem posto de saúde. Por
exemplo, Paracatuzinho, que é o maior quilombo urbano, o posto de saúde ficou
por dois anos em reforma”, concluiu Lara.
Por todos esses fatores, os
avanços e o reconhecimento das comunidades são importantes para garantir os
direitos para os quilombolas.
Fonte: G1