(Foto: Boa Nova FM)
Para que a gravidez pudesse dar certo, uma mulher de
31 anos deixou que a filha, de 10, fosse assassinada pelo atual companheiro
dela em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. Na versão do
padrasto, entidades recebidas por ele teriam ordenado a morte como forma de
“sacrifício” já que a mulher está no sexto mês de gestação. Em coletiva, nesta
quinta-feira (26), a Polícia Civil deu detalhes do caso que foi descoberto
nesta semana. Além disso, outra filha da dona de casa, de apenas 4 anos, também
foi assassinada pelo homem, com o consentimento da mãe, há cerca de seis meses.
O corpo da mais nova ainda não foi localizado.
Na última terça-feira (26), o
corpo de Ana Lívia, de 10 anos, foi encontrado enrolado na capa de um colchão,
debaixo da cama, em um barracão no bairro Perobas. Assim que tomaram
conhecimento dos fatos, policiais descobriram que o imóvel tinha sido alugado
há cerca de oito dias para a mãe e o padrasto dela, que tinham fugido do
imóvel.
“A equipe conseguiu, através
de um papel, identificar o homem e o encontramos, Na primeira abordagem, ele
demonstrou bastante nervosismo. Na delegacia, após contradições, inicialmente
ele confessou a ocultação do corpo. Depois ele acabou admitindo que tinha
matado a Ana. Ele alegou que recebe algumas entidades espirituais e que elas,
como forma de penitência pela gravidez, haviam exigido como forma de sacrifício
a morte da criança. Depois ele disse que foi uma explosão emocional. Mãe e filha
teriam discutido e a menina empurrou a mãe “, explicou o delegado Anderson
Resende Kopke.
O corpo de Ana Lívia
apresentava diversos sinais de espancamento, sangramento na região genital
devido às agressões, queimaduras feitas por cigarro, traumatismo intracraniano
e múltiplas fraturas. Enquanto o homem estava na delegacia, a mãe da garotinha
foi encontrada em um hospital da capital mineira, onde recebia atendimento por
causa da gravidez.
A mulher também foi levada
para prestar depoimento, mas, no começo, não respondeu nenhuma pergunta. Ainda
conforme a polícia, a investigada só começou a falar depois de ter sido
autorizada pelo marido. Ela confirmou a discussão com a filha e o espancamento
realizado pelo companheiro. Após as agressões, enquantoa menina agonizava, a mãe foi esquentar o
jantar para que os dois se alimentassem.
Morte de Stefany
Durante o depoimento, a mulher
acabou confessando que Stefany também teria sido vítima de um ritual religioso
entre o final de fevereiro e o início de março deste ano em Divinópolis, região
Centro-Oeste de Minas. “A mãe alegou que a Stefany teria sido espancada e morta
pelo atual companheiro também respondendo à entidade espiritual. Nesse época,
ela estava grávida,perdeu o feto e a entidade teria exigido como penitência
para uma nova gestação vitoriosa que a Stefany fosse eliminada”, detalhou o
delegado.
O casal, já com a menina
morta, veio para a região metropolitana de Belo Horizonte e desfez do corpo.
Após o crime, os dois foram passear em Porto Seguro, na Bahia, com Ana Lívia,
que tinha presenciado as agressões contra a irmã. Os investigados chegaram a tirar
fotos na praia. A polícia faz buscas na tentativa de localizar os restos
mortais de Stefany.
“O homem é extremamente frio,
sem arrependimento. A mãe ainda não caiu a ficha que participou dessas
torturas, desses maus-tratos. Ela não se dá conta que o companheiro é um ser
humano e não uma entidade espiritual. Ela não queria a morte das filhas, mas
ela aceita”, finalizou Kopke.
O homem e mulher vão responder
por homicídio, tortura e ocultação de cadáver. Eles estão à disposição da
Justiça.
Declarações de amor pelo
Instagram
No perfil que tinha nas redes
sociais, a mãe de Ana Lívia e Stefany costumava postar fotos com as crianças
com mensagens carinhosas. Em uma das mensagens, a mulher colocou em um dos
trechos: “Uma vez me disseram que uma mãe faz tudo por um filho. Hoje discordo
muito disso. Uma mãe ensina tudo ao filho que ele precisa pra se lançar à
própria vida, sobreviver e viver no mundo com plenitude.Feito isso o resto é
escolha dele (SIC).
Em alguns dos vídeos, ela
chega a brincar com as filhas afirmando que “ama as meninas demais”. A última
postagem da mulher foi em março desde ano, quando Stafany já tinha sido
assassinada.
Pensão das crianças mantinha a
família
De acordo com a Polícia Civil,
o sustento dos criminosos e das crianças vinha da pensão das meninas que o pai
pagava e dos bicos do padrasto. Além disso, o pai das vítimas vendeu um lote e
repassou R$ 40 mil para que a mulher pudesse cuidar das filhas do ex-casal.
Ainda conforme a polícia, a intenção do casal era culpar o pai biológico pela
morte das crianças. O plano era afirmar
que Ana Lívia estava com o homem e foi entregue ferida e,
posteriormente, teria morrido. No entanto, o pai há meses não tinha contato com
as meninas.
Equipe policial trabalhou por
cerca de 30 horas
Desde quando o caso chegou aos
policiais civis até a prisão e depoimentos dos bandidos, as equipes da
Delegacia Especializada de Investigações de Homicídios de Contagem trabalharam
cerca de 30 horas ininterruptas. Os depoimentos duraram cerca de 12 horas.