(Foto: Flavia Lima/Arquivo pessoal)
A Universidade Federal
de Uberlândia (UFU) é parceira da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
em uma pesquisa que identificou bebês que nasceram com anticorpos para a
Covid-19 em MG. Apenas em Uberlândia, foram 23 crianças, e no Estado,
segundo número da UFU, foram 69 casos de transferência de anticorpos IgG
da mãe para o filho no grupo de cinco municípios participantes da
pesquisa: Uberlândia, Contagem, Itabirito, Ipatinga e Nova Lima.
No Brasil, também há outros
casos de bebês que nasceram com anticorpos para a Covid-19 registrados em Santa
Catarina, Bahia e Acre.
De acordo com a professora
Cláudia Lindgren, do Departamento de Pediatria da UFMG, o objetivo do estudo é
acompanhar o impacto no desenvolvimento infantil.
“A confirmação da passagem de
anticorpos da mãe para o bebê durante a gravidez pode ajudar a planejar o
momento ideal para vacinação dos bebês contra a Covid-19. Já se sabe, por
exemplo, que os anticorpos maternos reduzem a eficácia da vacina contra o
sarampo, e por isso ela é feita mais tardiamente”, explicou a professora do
Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG, Cláudia Lindgren.
Em Uberlândia, foram
realizados 207 testes. Na cidade, a avaliação das crianças será feita pela
professora Vivian Mara Gonçalves de Oliveira Azevedo, da Faculdade de Educação
Física e Fisioterapia da UFU, com o apoio da Secretaria Municipal de Saúde.
“Uberlândia foi selecionada
por ser um município com número alto de nascimentos por mês, além de ter uma
alta prevalência da doença, então aqui é um cenário para acompanhar essas
crianças até dois anos de idade, que é o acompanhamento que a gente vai fazer
para avaliar o neurodesenvolvimento”, explicou.
Ao todo, no Estado já foram
testadas 506 mães e bebês. Segundo a UFMG, o planejamento é chegar a 4 mil
mulheres testadas. Em casos positivos, as pessoas serão acompanhadas por
dois anos, para observar se a infecção durante a gestação gerou consequências
no desenvolvimento dos bebês.
Um grupo de controle, com mães
e bebês com resultados negativos, também será acompanhado. Outro objetivo é
avaliar a duração da imunidade adquirida pelo feto durante a gestação.
Casos assintomáticos
Um dado que chamou atenção dos
pesquisadores foi a proporção de casos assintomáticos, ou seja, mães que não
tiveram sintomas da doença e ainda assim passaram anticorpos para os fetos. Na
pesquisa em Minas Gerais, o número chegou a 40%.
“Outros estudos já mostraram a
presença de anticorpos no bebê, mas a maioria deles investigou a transferência
de anticorpos após as manifestações da Covid na mãe. Nesta pesquisa, estamos
testando todas as mães e bebês, independente delas terem apresentado qualquer
sintoma da doença durante a gravidez, porque sabemos que cerca de 80% das
infecções são assintomáticas”, detalhou a professora Lindgren, que citou o
zika, rubéola e HIV como vírus que permanecem “ocultos” no organismo por
bastante tempo.
“Temos a hipótese que, à
semelhança de outras infecções virais durante a gravidez, o Sars-Cov-2 pode
trazer repercussão futura”, ressaltou. Nenhuma das mães participantes do estudo
haviam sido vacinadas para Covid-19.
Método
A pesquisa utiliza a rede de
coleta da triagem neonatal, conhecida popularmente como teste do pezinho,
realizada em Minas Gerais pelo Nupad, órgão complementar da Faculdade de
Medicina da UFMG. A mesma gota de sangue no papel filtro coletada para a triagem
neonatal é utilizada na pesquisa.
Dessa forma, os bebês não
passam por nenhum procedimento diferente do habitual. A novidade é a testagem
das mães, via punção digital, como é feito o exame de glicose, por exemplo, que
são convidadas a participar do estudo nos postos de saúde, no momento do teste
do pezinho de seus filhos.
Ineditismo
Segundo os pesquisadores, o
ineditismo do projeto é o tempo de acompanhamento e a avaliação do desfecho nas
crianças. A professora Cláudia Lindgren explicou que doenças adquiridas na
gestação podem não ter sintomas imediatos e agudos.
“A experiência da infecção
pelo Sars-CoV-2 nos adultos, nos mostra uma grande afinidade do vírus pelo
sistema nervoso central e levanta a preocupação de que ele também possa afetar
o feto. Mesmo que o bebê tenha nascido bem, sem sintomas da doença, o
comprometimento do desenvolvimento pode surgir mais tarde, por exemplo, quando
a criança começar a falar ou andar. Não temos estudos sobre isto ainda”,
afirmou.
Ao longo dos próximos dois
anos serão feitos inquéritos por telefone, consultas e testes de
desenvolvimento dos bebês dos grupos soropositivo e controle. A adesão
depende do aceite da mãe no momento do teste do pezinho, nas unidades básicas
de saúde.
Os pesquisadores convidam a
todas as mães dos cinco municípios participantes a colaborarem com o avanço da
ciência e das políticas públicas de enfrentamento à pandemia de Covid-19.
Fonte: G1