(Foto: Pixabay)
Em
um documento encaminhado à Câmara Municipal de Juiz de Fora, a Secretaria
Municipal de Saúde informou ao Poder Legislativo que havia observado uma perda
técnica de 17.789 doses de vacina contra a Covid-19. O memorando foi apresentado
em resposta a pedido de informação feito pelo vereador Sargento Mello Casal
(PTB), que repercutiu os números em suas redes sociais no início da noite desta
quarta-feira (26). Procurada pela Tribuna, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF)
esclareceu que o número constante no memorando, que leva a assinatura da
secretária de Saúde, Ana Pimentel, “equivocadamente”, agrega duas situações
distintas. Segundo a PJF, o total corresponde à soma de 10.769 doses que
“deixaram de ser entregues” e de “7.020 vacinas perdidas tecnicamente no
processo de vacinação”.
Ainda segundo a
Prefeitura, a perda técnica de 7.020 doses “é equivalente a 2,87% do total de
vacinas aplicadas, índice bastante inferior ao valor de 5% considerado como
perda técnica provável pelo Ministério da Saúde”. Cabe ressaltar, que o
memorando data de 26 de abril e remete a um quadro observado há um mês,
portanto, o número de doses perdidas até o momento pode ser maior. Em março, a
Administração havia informado à Tribuna que não havia registrado a perda de
doses.
Durante a reunião ordinária da
Câmara, também nesta quarta, o vereador afirmou que já fez um novo pedido para
atualizar os números destas perdas técnicas. “Fiquei surpreendido”, disse. Já o
vereador Juraci Scheffer (PT) informou que a secretária de Saúde fará uma
reunião com os vereadores na manhã desta sexta para esclarecer os números.
Em suas redes sociais, a prefeita
Margarida Salomão (PT) se manifestou sobre a situação envolvendo a perda
técnica das vacinas. Em sua postagem, a prefeita diz que as informações que
circulam sobre a perda das mais de 17 mil doses “são equivocadas, fruto de um
trabalho de desfiguração e manipulação da realidade”, e lamentou que dados de
natureza tão relevante venham sendo “equivocadamente desfigurados”.
Ainda na postagem em sua rede social, a chefe do Executivo
informou que Juiz de Fora aguarda a reposição de 10.769 doses, uma vez que
diversos frascos enviados ao município teriam volume de doses inferior ao
padronizado. A prefeita cita que a circunstância também ocorreu em outras
cidades do país, quando alguns frascos recebidos possuíam oito, em vez das dez
doses previstas. “Esse é um fato de conhecimento público, tendo sido divulgado
por diversos veículos de mídia de abrangência nacional.”
Requerimento de CPI
Por conta de questões relacionadas à vacinação na cidade, o parlamentar,
que é oposição ao Governo da prefeita Margarida Salomão (PT), apresentou um
requerimento em que sugere a abertura de uma comissão parlamentar de inquérito
(CPI) para averiguar os trabalhos da campanha de vacinação na cidade.
Segundo o regimento interno da Câmara Municipal de Juiz de Fora, para a
instalação de uma CPI, o requerimento precisa ser assinado por um terço dos
integrantes da legislatura, ou seja, sete vereadores. A comissão deve ter fato
determinado e por prazo definido para seu funcionamento, e terá poderes de
investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos em
lei.
Documento explica procedimento de vacinação
No documento, a Secretaria de Saúde afirma que “não faz a análise das
perdas técnicas por ponto de vacinação, mas de acordo com o tipo de vacina
(Coronavac e da Astrazeneca) e seus respectivos lotes”. Cabe lembrar que, até
abril, a cidade ainda não havia recebido doses do imunizante da Pfizer.
Em outro trecho, a pasta explica que “adota um fluxo de vacinação com o
objetivo de que os frascos de vacina sejam abertos e utilizados na totalidade”.
Também relata como é o procedimento em caso de sobra: “Em casos excepcionais,
quando há alguma sobra, segue-se à orientação do Estado, qual seja, a sobra de
doses nos frascos de vacinas contra Covid-19 serão administradas no público de
abrangência do ponto de vacinação, considerando a faixa etária a seguir àquela
que está sendo atendida no momento”.
Ainda no memorando, a Secretaria de Saúde afirma que a inutilização de
doses de vacinas é bem próxima a zero e acontece excepcionalmente em casos de
quebra do frasco e perda da estabilidade. “Quando ocorre esta perda de
estabilidade, em que o horário de abertura foi excedido de acordo com o
preconizado pelo fabricante, os frascos são autoclavados e desprezados conforme
orientação técnica”, afirma a Secretária de Saúde no memorando.
Reunião com o Ministério Público
Em contato com a Tribuna, o titular da 20ª Promotoria de Justiça de Juiz
de Fora de Defesa da Saúde, Idosos e da Pessoas com Deficiência do Ministério
Público de Minas Gerais (MPMG), o promotor Rodrigo Barros, afirmou que tem
conhecimento dos números relacionados a perdas técnicas informados pela
Secretaria de Saúde por meio de memorando encaminhado à Câmara. Assim, nesta
quinta-feira (27), a Promotoria de Saúde do MPMG, por meio do promotor de
Justiça Jorge Tobias de Souza, titular da 20ª Promotoria de Justiça de Juiz de
Fora de Defesa da Saúde, Idosos e da Pessoas com Deficiência, deve se reunir
com a Secretaria de Saúde para tratar do tema.
PNI prevê 5% de perdas
O Plano Nacional de Imunizações (PNI) prevê a possibilidade de
incidência de perdas técnicas, estimadas em 5% das doses. “O monitoramento e
controle de consumo da vacina Covid-19 serão simultâneos à evolução da campanha
de forma que o percentual de perdas operacionais, definidos com base nas
características específicas da vacina, que incluem esquema de duas doses e
estratégia da vacinação em modo campanha, inicialmente previsto de 5%, poderá
ser redefinido de acordo com a necessidade, a cada etapa da campanha de
vacinação”, afirma o PNI.
Fonte: Tribuna de Minas