(Foto: ilustrativa/internet)
Nos meses de março e abril de
2021, 15.438 moradores de Minas Gerais perderam a vida por causa da Covid-19.
Esse número corresponde a 44,3% de todos os óbitos registrados em 14 meses de
pandemia, deixando claro que a segunda onda foi mais devastadora do que a
primeira, ocorrida em meados do ano passado. Os indicadores estão melhorando
pouco a pouco, mas a população não pode relaxar, acreditando que o pior já
passou.
Mas o Estado poderá vivenciar
uma terceira onda da doença ainda mais mortal em breve, de acordo com Unaí
Tupinambás, infectologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade
Federal de Minas Gerais. A previsão de um pico ainda pior entre final de junho
e início de julho está baseada nos dados da atualidade, ainda em patamares
muito altos.
“Temos ainda muitas pessoas
suscetíveis à infecção e temos uma variante (P1) que tem possibilitado uma
transmissão mais fácil. E as pessoas estão cansadas e flexibilizando. Você vê,
infelizmente, muitas festas e flexibilizações ainda desnecessárias”, diz o
infectologista. Ele lembra ainda que o ritmo da vacinação está muito lento
ainda no país. E, mesmo nos países em que a imunização acontece de maneira mais
acelerada, o nível de transmissão do coronavírus ainda não está totalmente
controlado.
“Mesmo nos Estados Unidos
ainda há muitos casos. O Chile, país que mais vacinou na América Latina, teve
de fazer uma restrição de mobilidade por causa do aumento de casos. A vacinação
sozinha não vai dar conta de segurar a terceira onda. Temos que ter vacina e
medidas de segurança, como o uso de máscaras, duas se possível”, explica
Tupinambás.
Próximos meses
O alerta é válido para todo o
país. Uma projeção elaborada pelo Departamento de Saúde Pública do Institute
for Health Metrics and Evaluation (IHME), da Universidade de Washington, em
Seattle, indica que o Brasil poderá atingir a marca de 600 mil mortes por
Covid. Neste momento, foram confirmados mais de 422 mil óbitos, segundo o
Ministério da Saúde.
Para o secretário de Saúde do
Estado de Minas Gerais, Fábio Baccheretti, a possibilidade de uma nova onda no
meio do ano é real, mas ele acredita que ela não terá um número de casos e
mortes superior ao registrado entre março e abril.
“Estamos atentos a essa
possibilidade. Eu, pessoalmente, não acredito em uma terceira onda com pico tão
alto quanto o que vivenciamos agora, pelo crescimento da vacinação. Mas
acredito que pode, sim, haver novo pico, pelo comportamento da população,
porque todos estão muito cansados, e estamos preparando o Estado para esse momento”,
diz o secretário, acrescentando que a pasta já se adiantou em relação às
demandas por UTIs, kits para intubação e oxigênio.
Segundo o secretário de Saúde
de Belo Horizonte, Jackson Machado, o município tem insumos, leito e pessoal
disponíveis para enfrentar uma possível terceira onda.
Ambientes fechados
Para o pesquisador Marcelo
Gomes, que coordena o programa Infogripe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o
inverno não deve ser o fator determinante para uma possível terceira onda. “Nos
Estados da metade sul do país, há tipicamente um volume maior de casos de
doenças respiratórias no inverno. Mas, no caso da Covid, o que afeta mesmo não
é o ambiente, mas a maneira com as pessoas se expõem ao vírus. Tanto que
tivemos na primavera um pico maior do que no inverno do ano passado”, explica.
Mesmo assim, o inverno sempre
é uma época de maior transmissão de viroses porque as pessoas tendem a estar em
ambientes menos ventilados. “Nos Estados mais frios, quando as pessoas se
encontram, elas preferem um ambiente aberto ou um quentinho? E a transmissão em
local fechado é muito maior”, diz Gomes.
Gomes afirma que não é
possível prever se a terceira onda será pior, porque há muitos fatores que
podem interferir no aumento dos casos. “O grande problema é que o patamar da
epidemia ainda está muito alto e qualquer subida na curva faz a situação piorar
com muita rapidez e gravidade”, lembra.
Negação
Embora os especialistas e a
imprensa façam alertas diários sobre os riscos do coronavírus desde o início do
ano passado, muita gente insiste em não seguir as medidas de segurança. Pelo
país, espalham-se casos de festas clandestinas, pessoas que não usam máscaras e
encontros familiares em espaços pouco arejados.
Mas por que tanta gente se
arrisca, mesmo com todos os alertas de que a situação da pandemia pode piorar?
A psicóloga Lívia Pires explica que tudo no Brasil neste momento remete a
perdas – da saúde, dos entes queridos, da liberdade, da esperança, do dinheiro,
de sonhos, de clientes. E isso leva a um processo de luto que não está sendo
trabalhado psicologicamente por boa parte da população. “Segundo a psiquiatra
suíça Elisabeth Kübler-Ross, existem estágios de luto após a perda. Primeiro
vem a negação, depois a raiva e a tristeza. E muitos hoje vivem o estágio da
negação, não aceitam a realidade”, explica Lívia.
Para ela, isso pode ser
perigoso. “A pessoa que nega não quer se envolver emocionalmente com as perdas.
E a consequência disso é catastrófica, porque quem nega um problema não sabe
atuar sobre ele”.
Fonte: Jornal O Tempo