(Foto: Pixabay)
Pesquisadores da
Fiocruz que fazem a vigilância de mutações que vêm ocorrendo no coronavírus
detectaram novas alterações até então não detectadas na proteína spike (ou S)
do Sars-CoV-2 em circulação no Brasil. Foram observadas mudanças em 15 amostras
do vírus sequenciadas geneticamente. As informações foram divulgadas nessa
terça-feira (23)
Como a
quantidade de genomas com as alterações é pequena, os cientistas explicam que
ainda não se caracteriza como a formação de uma nova linhagem do Sars-CoV-2.
Mas eles alertam que é preciso manter a vigilância sobre como o patógeno está
se comportando e acompanhar se essas alterações aumentam de frequência.
Os pesquisadores da Rede Genômica Fiocruz
observaram em onze sequências genéticas deleções na região inicial da
proteína S - ou seja, trechos do DNA que "sumiram" no processo de
replicação do vírus. Em quatro sequências, ocorreu o quatro - foram inseridos
aminoácidos que não apareciam antes.
A spike está associada à capacidade do
coronavírus de entrar nas células humanas e, por isso, é um dos principais
alvos dos anticorpos neutralizantes produzidos pelo organismo para bloquear o
vírus. Os resultados dessa análise foram publicados em esquema de pré-print –
ainda sem revisão por outros cientistas – na plataforma MedRxiv.
"Podemos dizer que esta é uma descoberta
precoce, o que enfatiza a importância de ações em vigilância genômica, como a
realizada pela rede da Fiocruz", explica a chefe do Laboratório de Vírus
Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), a
pesquisadora Marilda Siqueira, em nota à imprensa.
"O novo
coronavírus está continuamente se adaptando e, com isso, propiciando o
surgimento de novas variantes de preocupação e de interesse com alterações na
proteína Spike. No entanto, vale ressaltar que as novas mutações foram, até o
momento, detectadas em baixa frequência, apesar de encontradas em diferentes
Estados. Ainda precisamos dimensionar o impacto deste achado e, sem dúvidas,
ampliar cada vez mais o monitoramento genômico", complementou a
virologista Paola Cristina Resende, do mesmo laboratório.
As amostras analisadas no estudo foram
coletadas de pacientes de sete estados: Amazonas, Bahia, Maranhão, Paraná,
Rondônia, Minas Gerais e Alagoas. De acordo com os pesquisadores, essas
alterações merecem atenção porque podem facilitar que o vírus escape do sistema
imunológico humano, ao dificultar a ligação da proteína S com anticorpos. Essa,
porém, ainda é uma hipótese que precisa ser testada.
De acordo com nota enviada pela Fiocruz, uma
amostra coletada no Amazonas apresentou um trecho deletado na linhagem
B.1.1.28, que era a mais comum a circular no Estado no ano passado, antes do
surgimento da P.1. Quatro amostras da Bahia, duas de Alagoas e uma do Paraná
apresentaram perdas em sequências caracterizadas como linhagem P.1. Uma amostra
de Minas Gerais apresentou a alteração na linhagem P.2.
Duas amostras do
Maranhão apresentaram a deleção na linhagem B.1.1.33, que também continham a
mutação E484K (alteração importante que aparece nas três variantes de
preocupação do mundo: as surgidas no Amazonas, do Reino Unido e na África do
Sul).
Três amostras do Amazonas e uma do Paraná
continham inserção de material genético em sequências provenientes da linhagem
B.1.1.28. Uma amostra coletada no Paraná e todas na Bahia e em Alagoas são de
pacientes provenientes do estado do Amazonas ou com histórico de viagem à região.
Para os pesquisadores, essas alterações
observadas agora podem estar associadas ao quem eles chamam de evolução
convergente do vírus, já que foram detectadas em diferentes linhagens. Esses
trechos deletados ou inseridos no DNA ainda não tinham aparecido no Brasil, mas
já eram comuns nas variantes do Reino Unido e África do Sul, conforme explica
Gabriel Wallau, que integra o Núcleo de Bioinformática da Rede Genômica e é
pesquisador do Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz-Pernambuco).
"Aqui vemos pela primeira vez que as
linhagens brasileiras estão seguindo o mesmo caminho evolutivo das demais
variantes de preocupação (como são chamadas a P.1, a B.1.351 – da África do Sul
–, e a B.1.1.7 – do Reino Unido). As mutações agora alcançaram outro importante
ponto da proteína viral, o domínio NTD, que é reconhecido por alguns anticorpos
neutralizantes específicos", explicou Wallau na nota.
Fonte: Site Rádio Itatiaia