(Foto: Reprodução/internet)
Em meio a críticas sobre as políticas do governo federal para o
transporte rodoviário, os caminhoneiros não chegaram a um consenso sobre uma
possível paralisação nacional da categoria a partir de 1º de fevereiro, próxima
segunda-feira.
O movimento vem sendo convocado por
entidades como o Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC) e
a Associação Nacional de Transporte do Brasil (ANTB) e tem entre as
reivindicações principais a queda no preço dos combustíveis, especialmente do
diesel.
No entanto, outros representantes da categoria, como a
Confederação Nacional dos Caminhoneiros e Transportadores Autônomos de Bens e
Cargas (Conftac), não aderiram ao ato.
A Conftac decidiu, em uma reunião na
última segunda-feira, não apoiar a paralisação por causa dos riscos de contágio
pelo novo coronavírus e de um possível desabastecimento no país.
Em nota oficial, a entidade afirma que não reconhece o CNTCR
como entidade representante dos caminhoneiros.
De acordo com o presidente da Conftac, José da Fonseca Lopes, que também é
presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) e foi uma das
lideranças na greve de 2018, é preciso esperar as decisões que serão tomadas
pelo governo federal até amanhã.
“É quando o governo vai tomar uma decisão.
Tudo aquilo que o presidente prometeu quando era candidato, ele não cumpriu”,
diz. Segundo ele, é possível reduzir impostos sobre o diesel: “Se não tem como
resolver de um momento para o outro, pode-se começar a montar um esquema de
trabalho para dar fôlego para o caminhoneiro”.
Fonseca teme, porém, que uma nova
paralisação possa complicar ainda mais a situação da pandemia no país. “Se
houver dois ou três dias de greve, não vai ter mais gasolina, comida, diesel
para ninguém”, afirma.
Reação do governo
Na quarta-feira, a Petrobras aumentou em
4,4% o preço do combustível vendido nas distribuidoras da estatal, o que
corresponde a R$ 0,09 por litro. Anteontem, pressionado pela ameaça de greve, o
presidente Jair Bolsonaro acenou para uma possível redução de tributos.
“Não interfiro na Petrobras. Deixar bem
claro. A Petrobras continua com a sua política de preço. Nós temos, atualmente,
33 centavos do litro do diesel para PIS/Confins. É isso que nós buscamos
diminuir”, disse ele, que acrescentou que a medida teria um impacto de R$ 800
milhões no caixa da União.
O presidente da ANTB, José Roberto
Stringasci, calcula que a paralisação deve ser apoiada por 70% da categoria em
todo o Brasil. Segundo ele, deve haver adesão de caminhoneiros de Minas Gerais,
principalmente nas regiões do Vale do Aço, do Rio Doce e Sul de Minas.
“Só tem data de início para parar. Não
queremos trabalhar com preço internacional de petróleo. O caminhoneiro recebe o
frete em real, mas o diesel está em dólar, o que faz com que todo o valor do trabalho
vá para pagar o combustível”, diz Stringasci, que afirma que não há interesse
político.
“A categoria não quer derrubar o
presidente, é uma reivindicação da categoria, que ajudou a elegê-lo”,
acrescenta.
Em 2018, a greve dos caminhoneiros parou
o país por mais de um mês e afetou a economia brasileira como um todo. A
categoria reclama que algumas promessas feitas na época, com a tabela de frete,
não foram cumprida
Líder garante que atual movimento não tem cunho político
O presidente da ANTB em Minas Gerais,
Ronan Araújo, salienta que a paralisação que pode acontecer na próxima
segunda-feira “não tem cunho político, não tem patrocínio de político e de
partido algum” e que a categoria não defende o impeachment de Jair Bolsonaro.
“O que nós queremos é a redução do
PIS/Cofins, já que o governo federal prometeu zerar a alíquota, jogando a
responsabilidade para os governos estaduais. Mas queremos a redução dos
impostos em cima dos combustíveis”, diz.
José da Fonseca Lopes, presidente da
Conftac e da Abcam, disse, por meio de nota, que por maioria “expõe que o
momento não é oportuno para a realização de um movimento de paralisação, visto
os danos irreparáveis que podem ser gerados para a sociedade brasileira”.
Segundo ele, “a maioria é contrária à
especulação política escancarada de alguns, ávidos por obter benefícios escusos
sobre a já dolorida experiência da pandemia do Covid-19, vivida por milhares de
famílias enlutadas, que não podem sofrer mais um baque, como o de um
desabastecimento”, disse.
Ronan Araújo, da ANTB em Minas, afirma
que a entidade possui 60 mil motoristas afiliados, número que se somaria com
mais 800 mil da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e
Logística (CNTTL), que aderiu oficialmente à greve nessa última terça-feira.
“Tem aqueles que não
se manifestam nas redes sociais pois têm medo, mas no dia da paralisação,
comparecem”, diz. De acordo com Araújo, a data foi marcada para pressionar os
congressistas, que retornam do recesso parlamentar em 1º de fevereiro, e o
Supremo Tribunal Federal (STF), que pode julgar a legalidade do frete mínimo da
categoria no dia 5.
Fonte: Jornal O Tempo