(Foto: Internet)
Quando o
assunto é vacina contra o coronavírus, há muitas dúvidas. O que é normal, na
visão de especialistas no assunto. Segundo o Ministério da Saúde,
considerando-se a transmissibilidade da Covid-19 (Rt entre 2,5 e 3), cerca de
70% da população precisa estar imune para interromper a circulação do vírus.
Isso significa que ao menos 140 milhões de brasileiros precisam estar
imunizados para frear o avanço da pandemia no país.
Segundo a pasta da Saúde, foram asseguradas 354 milhões de doses
de vacinas ao país por meio de acordos ou produção própria. O número é
suficiente para imunizar mais de 70% da população, em duas doses, o recomendado
em todas as vacinas já aprovadas e aplicadas pelo mundo.
Mas de nada
adianta obter vacinas se a população tiver receio em receber as doses. Tentando
esclarecer as principais dúvidas sobre o assunto, O
TEMPO consultou cinco especialistas do tema.
Indiferentemente da origem do imunizante – China, Inglaterra, Rússia ou Estados
Unidos, que já tiveram vacinas validadas por suas agências reguladoras –, se
ele for aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), todos
são categóricos ao afirmar que, sim, é seguro se vacinar.
“Sabemos que a vacinação vai reduzir drasticamente a circulação
do vírus. Ela vai evitar mortes, evitar casos graves, e é muito importante
entender a capacidade que as vacinas vão ter de reduzir o impacto da Covid-19.
Tendo a oportunidade, devemos nos vacinar”, orienta a professora do
Departamento de Microbiologia da UFMG, Jordana Coelho dos Reis.
Vale
ressaltar que, apesar de um imunizante poder apresentar resultados diferentes
em populações diversas, se ele for aprovado para uso no Brasil, significa dizer
que passou pelos testes de eficácia e segurança para os brasileiros. “Existe
uma série de fatores que pode levar a essas diferenças. Mas a Organização Mundial
da Saúde recomenda que, se a vacina tiver acima de 60% de proteção, ela é
eficaz”, garante o médico intensivista Maurício Meireles.
Ainda assim, alguns questionamentos só poderão ser respondidos
com o tempo. Isso de forma alguma inviabiliza que as doses sejam recebidas.
“Nós devemos ter os dados mais consolidados sobre o tempo de imunização que a
vacina vai conferir ao longo deste semestre, quando as pessoas que fizeram
parte da fase 3 dos diversos laboratórios tiverem tido um novo acompanhamento.
Ainda não sabemos”, pontua a consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia
Raquel Stucchi.
Não se sabe ainda qual a duração da imunidade causada no corpo
de quem já teve a Covid-19, e, por isso, a vacinação não é descartada em quem
já contraiu a doença. “A duração da proteção conferida pela infecção natural e
pela vacinação ainda são desconhecidas. Nós não sabemos se as vacinas são
capazes de prevenir a doença e prevenir também a infecção, ou seja, se o
indivíduo pode continuar adquirindo a infecção, transmitir e não adoecer”,
reforça o presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de
Pediatria, Renato Kfouri.
E, considerando-se a alta transmissibilidade do coronavírus, o
percentual de imunizados para que se possa atingir a tão esperada imunidade de
rebanho, ou imunidade coletiva, é alto. “A proporção da população que precisa
ser vacinada é em torno de 80% a 90% para que se possa atingir a imunidade de
grupo”, alerta um dos integrantes dos comitês de enfrentamento da Covid em Belo
Horizonte e na UFMG, Unaí Tupinambás. “Mesmo após a vacinação, vamos ter que
tomar cuidado com a Covid, pelos próximos dois a três anos. Vamos ter que
manter o distanciamento e manter o mascaramento”, completa. Em doenças já
controladas no país, como sarampo e poliomielite, a vacinação de 95% da
população foi a medida responsável pela proteção de todos.
Tira-dúvidas
1. Vacinar é seguro?
Sim, se o imunizante for aprovado pela Anvisa e outras agências
reguladoras pelo mundo. Uma vacina só é aprovada para uso após cumprir
rigorosos critérios de segurança.
2. Existe uma vacina mais eficaz que a outra?
Cada imuzante tem seu percentual de cobertura. Todas as vacinas
já aprovadas protegem da forma mais grave da Covid, o mais indicado, tornando
todas eficazes contra o coronavírus.
3. Se eu já peguei Covid-19, ainda preciso me vacinar?
Sim. Casos de reinfecção pelo mundo foram registrados e
especialistas advertem que a doença dá um período de proteção muito curto,
geralmente de dois a três meses, o que é comum em doenças infecciociosas. A
expectativa é que o tempo de proteção da vacina seja superior a essa proteção
causada por quem já pegou a doença.
4. Quantas doses são indicadas para a imunização?
Todos os imunizantes já aprovados trabalham com duas doses para
imunização.
5 - A mutação do vírus pode inutilizar a vacinação e
massa?
A princípio, não, já que a maior parte dos imunizantes em uso
pelo mundo protege contra as formas mais graves da Covid-19. Mas esse é um
aspecto ainda em estudo pela comunidade científica.
6. Depois que eu me vacinar, ainda preciso usar máscaras e
praticar o distanciamento social?
Sim. Ainda não se sabe por quanto tempo cada imunizante contra o
coronavírus vai proteger cada pessoa contra a infecção. Além disso, mesmo
estando vacinado, cada cidadão pode se tornar um agente transmissor do vírus, o
fazendo pelo contato direto.
7. Posso ter algum efeito colateral após ser vacinado?
Sim. Nos testes de todos os imunizantes, pouquíssimas pessoas
tiveram reações alérgicas entre oito e 12 semanas após a aplicação da dose.
Elas foram cuidadas e tratadas, o que não comprometeu a segurança da vacina.
8. A vacinação vai reduzir a circulação do vírus e a
pandemia?
A expectativa é que com mais pessoas imunizadas atinja-se a
imunidade de rebanho, reduzindo a infecção pela Covid-19.
9. De quanto em quanto tempo teríamos que nos vacinar?
Ainda não há dados consolidados sobre o tempo de proteção que a
vacina já em uso/estudos conferem ao corpo humano.
10. Depois de vacinado, posso pegar a Covid-19?
Há dois tipos de imunização, a esterilizante, como é o caso da
vacina contra o sarampo (após imunizado, não se pega mais o vírus), e a que não
é esterilizante, que te protege das formas graves do vírus, como é o caso da
contra o influenza-A. Ainda não se sabe como será a atuação da vacina da
Covid-19 nesse sentido, se será esterilizante ou não.
Fonte: Jornal O Tempo