Brasil
Publicada em 09/11/18 às 12:06h
Prisão de Joesley: propina teve participação de Cunha e 'passa perna' de ministro em deputado
Investigação envolve propinas milionárias entregues até dentro de Ministério da Agricultura em Brasília.

Boa Nova FM

 (Foto: Divulgação)
BRASÍLIA - A operação que levou à prisão um dos donos da JBS , Joesley Batista , além dos executivos Ricardo Saud e Demilton de Castro, parlamentares, dois ex-ministros da Agricultura, um deles o atual vice-governador de Minas, Antonio Andrade, nesta sexta-feira, tem como base a delação do doleiro  Lúcio Funaro , que detalhou como funcionava um esquema de propina dentro do Ministério da Agricultura. O esquema teria contado com a participação do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha na compra de apoio de políticos mineiros e uma inusitada situação no qual um dos ex-ministros teria "passado a perna" no então deputado João Magalhães na hora de dividir a propina.

Em 2014, o então ministro do governo da presidente Dilma Rousseff pediu e recebeu, segundo Funaro, uma propina de R$ 25 milhões da JBS para favorecer as empresas do grupo.

Segundo a delação do doleiro, o grupo empresarial teria pago R$ 2 milhões para conseguir a regulamentação da exportação de miúdos e despojos bovinos, além de R$ 5 milhões para aprovar a proibição do uso da ivermectina (um veneno de longa duração).

Funaro operacionalizou os repasses. O pagamento foi feito no período eleitoral de 2014, através de doação oficiais de campanha ao MDB e pagamento de fornecedores indicados por Andrade. O caso também foi detalhado na delação de Joesley Batista.

Propina de Contrapartida

Segundo Funaro, no início de 2014, um dos donos da J&F, o empresário Joesley Batista, e o executivo do grupo Ricardo Saud “solicitaram diretamente ao ex-ministro da Agricultura e Antonio Andrade, a liberação de certos frigoríficos, e proibição de outros, ao direito de exportarem carne para determinados países, para, assim, beneficiar a exportação da JBS”.

Andrade teria, segundo Funaro, determinado que um funcionário do ministério, indicado pelo ex-deputado Eduardo Cunha e pelo próprio Funaro, tomasse as devidas providências, “através de uma portaria do ministério, para atender tal demanda”. O serviço, segundo Funaro, teve um preço: “Em contrapartida, o ex-ministro solicitou propina no valor de R$ 25 milhões, alegando que precisava de tais recursos para a campanha de pré-candidato a vice-governador de Minas Gerais.

Os repasses

Ainda segundo Funaro, a propina milionária seria dividida entre o MDB nacional e o MDB de Minas Gerais, na forma de repasses para candidatos a deputados federais e estaduais do MDB mineiro. “Os deputados estaduais auxiliariam na indicação de Andrade para vice na chapa de Fernando Pimentel na convenção Estadual do PMDB”, disse Funaro.

A propina foi paga por Joesley, já durante o período eleitoral, na forma de doação oficial de R$ 1 milhão para o diretório do MDB mineiro. Outros R$ 9,8 milhões foram usados para bancar, via caixa dois, fornecedores diversos de campanha indicados por Andrade. Outros R$ 15 milhões foram pagos, por meio de doações oficiais de campanha a partir de um supermercado de Minas Gerais. “Tudo sob orientação de Andrade”, disse Funaro.

Retrato da propina

Sucessor de Andrade no Ministério da Agricultura, o atual deputado estadual eleito Neri Geller (PP-MT) teria continuado o esquema de propinas na pasta. Na própria delação de Joesley Batista, os delatores relatam um episódio curioso envolvendo uma das entregas de propina.

Florisvaldo Oliveira, ex-executivo da J&F e encarregado de distribuir as propinas da JBS a políticos, tirou uma foto com o então ministro da Agricultura, Neri Geller, depois de lhe entregar, em mãos, R$ 250 mil.

Ao prestar depoimento na delação, Oliveira disse que apresentou seus documentos na entrada do ministério e que partiu da própria assessoria da pasta o pedido para que ele e Geller, uma indicação do MDB, posassem juntos para a foto. Em sua delação premiada, o “homem da mala” da JBS anexou até um e-mail que recebeu do fotógrafo do ministério com o registro do encontro. Ele foi enviado no dia do pagamento da propina: 3 de novembro de 2014.

"Tomou um chapéu"

Um áudio recuperado pela Polícia Federal nos gravadores dos delatores da J&F, o executivo Ricardo Saud, alvo de mandado de prisão nesta sexta-feira, conversa com o então ex-deputado federal João Magalhães (MDB-MG) sobre o pagamento de uma propina de R$ 4 milhões que teria sido prometida a ele, ao vice-governador de Minas, Antonio Andrade, e outros integrantes da bancada mineira na Câmara. Em setembro de 2014, já pensando na eleição para a presidência da Casa, o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB) usou os R$ 4 milhões da sua conta-propina com a JBS para comprar o apoio de parlamentares mineiros. A bolada seria dividida entre Andrade e outros parlamentares.

O então deputado João Magalhães levaria parte da bolada, mas ficou com medo de ser flagrado pela PF com o dinheiro e, nas palavras de Saud, “tomou um chapéu” de Andrade, que teria recebido a propina pelos dois, mas não repassou ao colega.

Na conversa, Magalhães reclama que não recebeu a propina, diz que tem todas as anotações dos acertos “escondidos no gabinete” e que precisa resolver a situação. O ex-deputado então revela que rompeu com Andrade porque levou um golpe do colega: “Nós chegamos na Pampulha [o aeroporto para voos privados em Belo Horizonte]. Eu tava indo para um comício em [Governador] Valadares, aí a Polícia Federal fica na frente do aeroporto, você chega com uma mochila cheia de dinheiro?”, diz Magalhães. “Nós resolvemos tudo. Você tomou um chapéu”, diz Saud ao ex-deputado.


Por O Globo




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